CIA DOS BLOGUEIROS


quarta-feira, 4 de abril de 2012

CÂMARA SECRETA OU ZOOLÓGICO?

FLAUDILÂNDIA – UMA CIDADE SERIAMENTE GOZADA

 PRIMEIRA NOVELA BLOGAL

CÂMARA SECRETA OU ZOOLÓGICO

Nono capítulo

_ Eita mulher que não tem o que fazer, liga num horário desses, atrapalha a minha contemplação urbana noturna, rompe o meu êxtase com o vento e ainda me obriga a dar explicações que eu não quero.
 E essa escuridão?  A escuridão não aumenta com o passar das horas. Ela se acomoda na sua condição de escuridão. Acho que a escuridão deve ser o dia com olhos fechados. Ela é o lado de dentro dos olhos fechados. A escuridão não deve sentir dor nem fome. Não tem nada para vencer, também nada a perder. Talvez não queira ser guerreira, demonstrar força e poder. Pra quem? Por que, se ela acontecerá naturalmente todas as noites dos dias que se findam?
 Por que ser guerreiro? Pra quem? Pra mim? Também não posso me acomodar na condição de Flaudinho apenas. Mas a escuridão, ela dá sentido às luzes artificiais dos faróis dos carros. E os guerreiros? Dão sentido a quais artifícios? Tem que haver guerra para ser guerreiro? Onde tem guerra há mortes e mortos.  Quantos tipos há de guerras? Quantos tipos há de mortes? Quantos tipos há de mortos? E guerreiros? Quantos tipos há?
Esse meu punho dói sem parar, mas já me acostumo com essa dor, é a minha companheira. O que eu não posso é deixar que o meu braço fique torto. Cada vez que eu estico  o  braço e movimento a minha mão sinto que os ossos rasgam a minha carne. Mas vou suportar, com o tempo a dor se acomodará.
 Pena eu não conseguir carregar para os cantos desta biblioteca aquele livro da árvore. Muito pesado. Mas vou lá de novo. Me intrigou aquela figura da serra na árvore. Por que serra? Não tem feição, cara, corpo. Uma serra na árvore genealógica. Seria o fantasma da serra? Ou essa serra seria uma lenda? Ou será que essa serra é um aviso de que ninguém  deverá cortar a árvore e distribuir os seus pedaços para ninguém, porque a árvore não é propriedade privada. Serra! Serra? Deve ser o símbolo do ‘mal’ dessa árvore.
Livro da árvore genealógica, aí vou eu novamente. Essa página aqui. Veja só! Bandeirantes, Humaitás, Tupinambás... Uns cachos com gente pelada e outro cacho com pessoas carregadas de roupas e bugigangas pelo corpo todo. Vai entender a estranheza dessa árvore. Jardineiro, jardineiro! Em qual escola você se formou para selecionar e acabar misturando todos os tipos de sementes em um buraco só!? Mas são nomes interessantes. Quando eu for um “MOR”, como o meu pai é, vou colocar esses nomes em algumas ruas de  Flaudiândia.  
Hã hã hã hã hã  hã hã  ! Que que é isso torcida flaudilandense!?  Uma coisa bem esquisita, mas já não consigo visualizar muito bem. Vejo duas imagens, bolinhas coloridas estão atravessando a minha visão.  
Trimmmmmmmmmmmmmmm

_ Que barulho estranho é esse?

Trimmmmmmmmmmmmmmm

_ Onde está?  Tomara que toque novamente para eu poder ir ao encontro desse som .

Trimmmmmmmmmmmmmmm

 Plupluplumm plupluplummmm

_ Alôô

_ Alô, quem  está falando por favor?

_ Alô

_ É o Flaudinho? Flaudinho?

_ Alô

_ O que está acontecendo, Flaudinho? Por que não está conseguindo falar?

_ Eu acho que vou cair, é aquela dona novamente?

_ Flaudinho, melhor você se sentar um pouco. Você está sentiu alguma coisa ruim?

Ploft ! Plum!

 _ Aaaaai, minha cabeça!

_ Flaudinho o que houve, não está conseguindo falar ao telefone?

Minutos de silêncio!

_  Alô, quem fala? Quer falar com quem?

_ Flaudinho? O que houve, querido? Vou se sentiu mal?

_ Que é isso dona? Flaudinho sentindo mal? Somente na sua cabeça de burra para pensar isso. Eu estava ocupado.  É esse telefone que não para de tocar, eu estou enchendo as agendas dos meus familiares. É isso!
_ Mas como não para de tocar, há outro telefone por ai? Eu estou na linha há um tempão.

_ Dona, desde quando eu tenho que lhe dar explicações? Vai falando, quer o que de novo, estrupicio?
_ Achei que você tivesse passando mal. Ouvi barulhos de queda, como se um corpo caísse.  Você  já se alimentou hoje, Flaudinho?

_ Ainda não, e isso não é da sua conta!?

_ Flaudinho, já é madrugada, você nasceu pela manhã e ainda não se alimentou. Você desmaiou, Flaudinho? Desmaiou de fome?

Silêncio

_ Flaudinho, onde está o livro da árvore? Você já viu nele algumas  frutas, me disse isso. Com a sua criatividade e irreverência, porque você tem atributos de sobra dentro de você, sabe disso, não sabe Flaudinho?

_ Hum...Claro que sei!

_ Então, Flaudinho! Você é mais do que especial. Potente mesmo. Creio que logo logo se tornará um guerreiro de dar orgulho a toda sua família.

_ Acho mesmo isso?

_ Acho não! Tenho certeza, Flaudinho! Você é astucioso. E carrega  uma imaginação  que todos os guerreiros precisam ter para vencer batalhas. Você tem isso.

_ Acha? Estou com o livro da árvore aqui!

_ Vai  lá, quase no início. Encontrará pão. Coma dele e se fortaleça, Flaudinho!

_ Que é isso, dona! Está me dando ordens agora!?  Me ensinando também o que eu devo fazer para comer? Não preciso da ajuda de ninguém! Tenho que me virar sozinho e não vou aceitar a ajuda da senhora, vai embora.

Tummmmm    tummmmmm        tummmmmm      tummmmmmm      tummmmm

_ Afff! Só mesmo desligando na cara dessa infeliz para ela desaparecer do mapa.  Falar em mapa, não custa nada bisbilhotar as primeiras páginas do livro, como a dona falou. Depois eu volto na página que tem uma serra.  Vai que, né!?    Com esse punho doendo, quem merece?

Vamos ver, passando: Na direita um casal pelado e uma cobra comendo maçã; na esquerda um montão de gente feia com bichões maiores do que eles e bananas de dinamites. No meio disso tudo uma explosão BIG BANG que quase me  matou de susto. Vamos para a próxima página. Hum...  Uma arca  com um montão de bicho e  ... olha só isso!
Vamos dar uma saraivada nele!   Quantos bichos aparecidos, gente!? Agora não sei se são dois animais iguais ou se a minha vista está multiplicando os bichos.  Aí, aquele dona tem razão, acho que estou com fome, já é madrugada e está escuro. Aqui nessa arca também é escuro. Caramba! Nem para acenderem uma lamparina, vela ou ... ou... bem, o fogo já foi descoberto e... aí ela!  A cobra que fumava lá nas primeiras páginas. Está fazendo o que aqui, cobrita?

Zzzzzz

_ Calma, cobrita. Não é hora para cobra fumar. Tem um tio do meu tio que proibiu fumaça de cigarro em qualquer estabelecimento fechado. Fique na sua, sua cobra! Mesmo porque você está cercada de água, bichinha! Vão jogar você no riozão aí!
Aí, quem é o dono desse zoológico flutuante? Parece uma arca, mas arca mesmo é a N.A.P.O

_ Quer o quê aqui, criatura estranha? De qual tribo você é? Não tem uma companheira para você? Então zarpa fora!

_ Cruzes, quem é você, velhinho? Eu sou o Flaudinho.

_ Que é isso na sua barriga, criatura estranha?

_ Isso aqui?  Não sabe não? É o meu cordão umbilical. Nunca teve um? Criatura estranha é você  que parece um bicho. É por isso que vive junto com eles?  Que bicharada ! É para algum leilão de caridade?

_ São animais que vão povoar a terra depois que a água secar?

_ Mas que desejo mais besta é esse? Querer que a água seque? Tem campanha em todos os cantos do mundo para não desperdiçarmos água, vem o senhor querendo que a água seque!?  Eita, bicho ruim de veio!  Responde uma coisa. Não tem veterinário nessa parada, não!? Preste atenção numa coisa. Em Fladilândia a lei de proteção aos animais é severa.

_ Não vê que estamos à deriva? Não há um pedaço de terra onde podemos descer!

_ Uai! Comprou esse barcão de algum contrabandista do Paraguai? Não viu que ele vinha sem leme? Problema seu, agora! E olha só, se não tiver nota fiscal o leão vai te comer. E é bom tomar cuidado porque parece que a fêmea dele também está morta de fome.

_ Há dias estamos aqui dentro. Os animais estão realmente com fome. Os alimentos terminaram e precisamos chegar em terra firme antes que as espécies  comecem a morrer ou então...

_ Ou então o quê, velhinho?
_ Um passará a comer o outro e não terei como evitar essa cadeia  alimentar hereditária!

_ Putz, velhinho! Que profundo isso! Faz o seguinte: Quando um der sinal que vai atacar o outro, você pega uma... hum hum – são pigarros sabe? –  não tem moeda não, né!? Então pega qualquer coisa e joga nele, quem sabe você não acerta na cabeça!? Aí você, digo, senhor, com a sua permissão, apareceu de onde o senhor?

_ Estava na câmara secreta com os meus filhos e minhas noras. Ouvi um barulho  e vim ver, dei de cara com um intruso.

_ Não sou intruso não! Você está nas páginas do livro da minha família. E eu estou visitando a história.  O senhor tem esposa?

_ Eu estava com muita fome, criatura estranha, entende?

_ É,  eu também estou com muita fome. Aqui vocês servem o que para as visitas de vocês?

_ Aqui não temos visitas, criatura estranha. Você é a visão da tormenta!  Vá embora daqui seu umbigudo de uma figa!  O seu cheiro está atiçando o apetite dos nossos animais.

_ Tudo bem, eu vou, mas por que a sua câmara  é secreta?

_ Porque estão ali os aliados do  meu Senhor.  Lá estamos protegidos pelo nosso guardião. Fora da câmara, se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Há pouca gente aqui para muito bicho, então nos protegemos e eu estou no comando desta arca.

_ Arca? Aqui é bem escuro, dentro da câmara é escuro assim também. Olha, tenho uma lanterna. Já tinha visto uma antes? Ela ajuda a clarear. Veja só, acende aqui. Ah, olha lá, uma tigresa! Com a claridade a gente pode ver quem vem na nossa direção, uma arma de defesa essa lanterna, não acha?  Cuidado, a tigresa vem ferozmente na sua direção. Joga qualquer coisa nela. Vamos! Isso! Aí, velhinho, acertou na cabeça! Se você estivesse lá nas últimas páginas deste livro eu diria: Bingo! Bom de mira como mostrou ser ia sair com um sacão de dinheiro do “Bingo”!  
 Se errasse o alvo ia ganhar uma saraivada.  Sabe, olhando bem a sua fisionomia, o senhor parece muito, mais muito mesmo com um primo meu. Vocês são muito aparecidos.  Deve ser por isso que o senhor está aqui na árvore com essa bicharada toda. Vou fechar essa página que de bicho estou com o saco cheio.
 Vim a procura de comida, mas pelo visto aqui é um comendo o outro. Eu heim! Ah, protege bem o casal de macacos ai, que tem um outro primo meu, aqui em Flaudilândia, que prova cientificamente que ele é descendente de macacos. Prova disso é ele retribuir com bacanas quem discorda das teorias dele.  Cruz! Cada uma!

_ Feche essa matraca e  suma daqui antes que eu te afogue na imensidão de água que te aguarda lá fora, bicho estranho!

_ Não! Já vou fechar o livro! Fechei, fechei!
 Ah, pobrezinha. Esmaguei uma traça entre as páginas.  Será que por minha causa essa espécie não vai se reproduzir mais? Putz! Vamos combinar, eu comigo mesmo, heim Flaudinho!? Página de história com cheiro de zoológico ninguém aguenta. Tanta água e não são capazes de lavar aquele ambiente, limpar a própria sujeira?  Lugarzinho que fede. Querer que a água seque para encontrar terra firme. Cambada já vinha lá de antes. Depois que a água secar vão querer vender, pôr em sacos, sei lá! Vai entender essas campanhas que fazem só para atormentarem a cabeça da gente.
Gostei dali, não! Melhor eu voltar a contemplar a escuridão lá de fora, porque a de dentro, fede pra burro.  

Espero que aquela dona não ligue mais hoje. Estou vendo vagalumes na minha frente ...

continua

Rita Lavoyer




2 comentários:

  1. Esse mundo de faz-de-conta do Flaudinho reconta a nossa história! Ou somos nós que o plagiamos? Nessa escuridão intelectualóide, não haverá lanterna capaz de "iluminação sábia!" - Bichos & Cobras & Lagartos... um come-come... No futuro ensacar água pra vender... realmente ele terá muito prender sobre a logística flaudinandense!
    Bj. Célia.

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  2. Este Flaudinho não seria um outro Macunaima? O danado vai ver vagaluimes na frente dele até morrer de inanição. Comete um crime de sedição contra o stabelishment ( é assim que escreve, nego querendo dar uma de intelecutal dá nestas me...coisas) que é trabalar para o sucesso da sociedade. Da gente mesmo, pouco vemos.

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