CIA DOS BLOGUEIROS


quarta-feira, 28 de março de 2012

ELA DE NOVO NOVAMENTE

FLAUDILÂNDIA – UMA CIDADE SERIAMENTE GOZADA

 PRIMEIRA NOVELA BLOGAL

ELA DE NOVO NOVAMENTE

 OITAVO  CAPÍTULO DA NOVELA DO ANO. 

_ Aqui dentro está calor. Vou abrir um pouco essa janela pra ver se entra um ventinho pra secar o suor debaixo do meu braço. Tem pelo demais debaixo do meu braço. Tem até um pouco da meleca de quando eu nasci grudada nos pelos. E tem esse cordão umbilical que é até engraçado. Gosto dele. Se tiver que se soltar, que se solte sozinho. Se um dia ele não quiser mais viver em mim vou fazer o quê? Perdê-lo vai me deixar triste, mas enquanto eu puder segurar este meu  umbigão ele ficará comigo. 
 Ufa! Cidade quente, sô! Daqui do alto até que tem um vista bonita de Flaudilândia. Lá embaixo tem um monte de ônibus e um monte de flaudilandenses esperando por eles. Quanta gente que desce, quanta gente que sobe. Uns vão, outros chegam. Mas Flaudilândia é uma cidade linda demais! Posso ver uma avenida iluminada e carros passeando por ela em passeata. Parece que estão passeando mesmo, encenando com suas rodas um balé viário, cujas ruas lhes são palco que recebem a escuridão do solo.   O escuro enfeita os faróis dos carros. Nunca antes na história da minha vivência de nem  um dia inteiro tinha pensado no quanto o escuro é importante. O que pode ser tirado do escuro? Será que é por isso que a cartola do mágico é preta e o coelho que sai de dentro dela é sempre branco? Quais são os mistérios que envolvem o escuro do mágico em sua total magia? Quando o escuro é de fato escuro, e quanto de artificial há no claro para ocultar o escuro? Por que será que eu estou filosofando isso? Por acaso eu estou na caverna do pentatioavô   Platão? Bem... O escuro serve, pelo menos, para ninguém ligar aqui...

Trimmmmmmmm 

_ Não acredito que nem durante à noite esse povo não para de solicitar serviços dos meus parentes.

Trrimmmmmmmmmm

_ Ai, só me lembro do manual do Flaudinho quando o telefone toca. Cadê você, manual infeliz?

 Trimmmmmmmmmm

_ Alô, quer falar com quem?

_ Flaudinho? É você?

_ Hum... depende

_ Flaudinho, sou eu. Preciso de alguém que venha arrumar meu encanamento...

_ Mas é a senhora de novo novamente? Estragou o meu momento de contemplar a cidade através da minha janela. Curtir um ventinho batendo no meu peito, secando o meu suor. Oh, vou falar uma coisa pra senhora. À tarde, quando eu passei aquele panetone pelo telefone, eu deveria ter passado muito mais.  Eu deveria ter enchido a boca da senhora com panetone. Ou melhor, deveria arrumar um emprego pra senhora lá na escola do Bairro do Mestre. Lá sim a senhora ia ser carcada  como merece.
A senhora não tem vergonha nessa sua cara, que eu nem imagino como seja, mas que deve ser bem a cara da sua burrice e da sua fome. Vou fazer com a senhora o mesmo que fizeram com uma dona aí, se atreveu a ir à escola e comer a merenda na frente das minhas irmãs.    Elas até que foram boazinhas com aquela dona lá,  esperaram uma semana pra verem a infeliz  encher a barriga, aquela morta de fome! Viram e não cruzaram os braços. Irmãs minhas são  porretas toda vida, não negam fogo no serviço. Professora não tem que comer merenda em escola. Bem disse o meu tio Maluva  sobre essas mortas de fome: “Professora não é mal remunerada. Ela é mal casada”

_ Ah! Que horror! Você tem um tio com esse nome? Má luva? Os dedinhos dele devem ser ágeis pra caramba!

_ Vixi! Tem um monte de ancestrais dele apinhado na árvore, aquela do livro  que eu já subi algumas vezes. E a senhora pare de fazer insinuações sobre o nome do meu tio.

_ Então, Flaudinho, se fossem todos os maridos com os dedinhos ágeis  como os do  seu tio ai, não haveria professoras ministrando aulas, não acha?

_ Calada, sua burra! Quem disse pra senhora que o meu tio é ladrão?

_ Hei! Eu não disse isso!

_ Disse sim, eu escutei!  A senhora pode ser processada por calunia e difamação, entendeu? Só que eu sou bonzinho, ainda, não virei um guerreiro,  senão já ia registrar o endereço e o telefone da senhora e mandar a polícia atrás, aí sim, iam mandar a senhora lá para aquele lugar onde mandaram os que não entregaram  espontaneamente a contribuição para Flaudilândia. Se bem que aquele lugar foi desativado, mas tem outros, com outros nomes, disfarçando a escuridão dos porões  nas noites mal dormidas
 Na câmara de Flaudilândia o assunto comeu feio, porque comeram a merenda na escola. A senhora, sua burra, por acaso já fez isso alguma vez?  Ah, claro que não, não é professora... ou é?  Há há há há, coitados dos alunos.
Deram com os dentes na língua, as minhas irmãs, ou vice-versa como preferir. Viu só como tem gente que causa confusão na vida das pessoas? Ah, e tem mais, isso foi só uma amostra grátis do que elas podem fazer com quem vai à escola e come merenda que é destina somente aos alunos. Sabe mais o que elas disseram?

_ Nem imagino, Flaudinho. Quem foi essa pessoa que foi à escola e comeu a merenda? Por acaso é uma pessoa muito gorda?

_ Claro que não! É uma mulherzinha bem magrela mesmo.

_ Então! Está aí o problema. Ela é magrela e pode comer de tudo. Quer ver? Me responda:  as suas irmãs que denunciaram e mais  a outra  que ergueu o varal por causa dessa mulherzinha que comeu a merenda na escola são gordas ou magras?

_São gordas, dona! Bem gordas mesmo! Daquelas que dão de braço e de perna pra mais de muitos marmanjos sarados.

_ Está ai a razão de elas não quererem que uma magrela coma a merenda. É porque elas fazem regime e estão morrendo de inveja  há há há há 

_ Que é isso, dona!? Quer morrer!?   Mas disseram que é uma pessoa que pensa que escreve, mas não escreve porcaria nenhuma. E tem mais. Quer saber?

_ Se você  quiser me contar, vou ouvi-lo.
  E por falar em escrever, de novo, foi  lançado  o livro, sobre uma passagem interessante, de um membro honorário da nossa família.  Na sua cidade não é dado esse tipo de lançamentos?

_ Sim, há a publicação dessas  obras  aqui sim!  Mas interessou-me esse seu “membro honorário”. O que vem a ser isso?

_ Bem, para a senhora entender devo explicar nos mínimos detalhes:
Tem um tio meu, um bom profissional naquilo que ele soube fazer de melhor. De tanto que fez bem o trabalho dele, aposentou-se. Goza de seus direitos no Asilo, mas não é desse asilo de velhos a que eu me refiro não! Asilo aqui na nossa cidade é lugar para todos desejarem  viver exatamente no ‘Asilo’. Vê só, dona, como tudo é uma questão de ponto de vista?  O que pode ser ruim para um, é excelente para o outro. Vai ganhar ainda para viver lá no Asilo, sem contar que ganha ficha limpa, CPF e RG. O cara, aqui, entra no Asilo e fica novinho em folha.

_ Ainda continuo não entendendo. Sobre o que  fala nesse livro, e quem foi que o escreveu?

_ Fala sobre muro, sei lá, mais ou menos isso! Não sei se “em cima do muro” “pulando o muro” ou “ pé no traseiro”, sei lá, dona, mas sei que se refere ao ‘pé’ e ao ‘muro’.

_ Interessante. E quem patrocina é o próprio povo, cidadãos de Flaudilândia? A sua cidade não patrocina a história do próprio povo dela?

_  Uma das forma é essa.  Mas o meu pai, o fundador dono da cidade, fez questão que fosse assim, uma forma  justa de reconhecer o nobre trabalho do meu tio, sabe?

- Mas quem é esse seu tio, tão importante assim para a vida de Flaudilândia?

_ Dona,  o nome do meu tio escritor, que  escritor jamais chegará aos pés dele é CESARE BATTISTI.

_ Afff! Tenho certeza de que o lançamento foi um sucesso. Fizeram uma festa, exigiram que todos os empregados de vocês comparecessem  cobrando bem caro do livro.  Estariam fazendo com eles o que sabem fazer de melhor na função de vocês, não é?  Exijam, agora,  que eles  carreguem o tijolo, digo, o livro nas costas, para que se lembrem de agradecer por tudo que a família de vocês proporciona aos empregados. Aliás, Flaudinho, é bom que se lembre de que ainda que existam formigas lava-pés, rapa-pés, lambe-pés, tanajuras arrasta-bundas, há as cigarras, aquelas que alegram a labuta das trabalhadoras. Ler sobre a vida de vocês me daria um tremendo prazer. Desses, do tipo que a sua família sabe proporcionar. Não é Flaudinho? Flaudinho? Flaudinho, cadê você?

(minutos depois)

_ Oh, dona, ficou sozinha aqui no telefone? Não percebeu que não tinha ninguém aqui do outro lado, não? Fui ao banheiro trocar a minha frauda.  Aí, dona, eu ia mandar a senhora ir embora , meter a cara no escuro, mas eu achei um trabalho literário de primeira grandeza escrito por dois irmãos meus. Eles são gêmeos. Mamãe Dasdor também  soube fazer isso. Vou ler pra senhora, está aí ainda, dona?

_ Estou Flaudinho! Esses seus irmãos são escritores?

_ ÔÔÔÔÔÔÔÔ! Nem conto dona. Têm até nome artístico registrado patente e coisa e tal. Ah, esse trabalho que eles fizeram é para homenagear as cidades aqui das adjacências de Flaudilândia. Trabalho poético é trabalho poético. Não se discute a nascente nem seu afluente.

_ Hã! E qual o nome artístico desses artistas, há há há?

_ A dona está rindo do quê? Respeite o trabalho dos outros, isso é questão de cultura e educação, dona. Os meus irmão são  CabRita e CaBRITO. São gêmeos!  Lá vai!

MINHA TERRA TEM BURACOSI

Minha terra tem buracos
onde muitos se debruçam.
Eles gostam dos buracos
porque neles se lambuzam.

Na minha terra tem buracos
E outras porcarias também
Por sorte tem mulher bonita
Que outras cidades não têm

Buraco é propriedade pública,
jamais será privada.
Mas se houver boa intenção na venda
entrará outra bolada nessa vislumbrante tacada.


Buraco é propriedade pública
Conviver, uai! Se não   tem jeito
Mas eu dou os meus de bom grado
Aos vereadores e ao senhor prefeito

Minha terra tem troço e troça.
Teve trem e bangue-bangues.
Mas qual casa que não tem,
se temos os genes dos caingangues?!

Ah! Não põe cainguange neste papo
Ainda têm descendentes na região
Vai que um deles se ofende
Vai te cortar de faca e facão
Caingangue é raça viril,
os buracos tirava de letra.
Só entrava quando era convidado,
nunca entrava de penetra.

Então, mais um motivo pra cuidados
E mesmo gente muito viril
Não custa andares pelo calçadão
E um te mandar pra ...intão


Minha terra tem buraco
que não podemos tampar com cascalho.
Está incomodado? Corte a sua madeira
encha ‘ele’ de carvalho.

Minha terra também tem buracos
Tampar com cascalhos pra quê?
Já basta o serviço de porco
Que por aí a gente cansa de “ vê”

Mas se quer viver na sombra
deixa inteira a sua lenha.
Usufrua do buraco,
entra na fila, pegue uma senha.

Quero sim viver na sombra
Foi pra isto que dei duro
Entrar  em fila, pegar senha
Ah! Não faço. Isto até juro


Minha terra tem buracos,
num deles vou plantar um araçá.
Depois vou vendê-lo como água
guardar o dinheiro num saco de "aguaçá".

Minha terra também tem buracos
De um deles vou bem cuidar
Deixar o lugarzinho no jeito
Pra quando o prefeito descansar

Minha terra tem buracos
com a cara da situação.
Muitos os querem abertos
para salvar a oposição.

Minha terra tem buracos
Desgraçado nem cara tem
Tem  cara do governo anterior
E  jeitão deste governo também

Minha terra tem buracos
com a face da oposição.
Poucos os querem tampados
para matar a situação.

Minha terra tem buracos
E um monte de confusão
E agora com o problema do Daea
Desgraçou mais a situação

Minha terra tem buracos
que têm analofobia.
Dentro deles têm políticos
gozando verborragias

Minha terra tem buracos
Analofobia? Sei o que isto não
Mas em se tratando de políticos
Ah! Esta merda tem de montão

Minha terra tem buracos
e dentro deles uma cidade.
Mergulhe nela de cabeça,
resgate a sua identidade.

Minha terra  tem buracos
No acostamento, muito mais
É  só aparecer uma vaguinha
Que os buraquinhos correm atrás

No mundo da escavação,
nem todo o buraco sai perfeito.
Registre o seu nos anais
e vote nele no próximo pleito.

No mundo da escavação
Sim, nenhum buraco sai perfeito
Mas veja no mundo da esculhambação
Todo buraquinho  leva jeito
Buraco é lugar sagrado.
É nele que começa a vida,
mas já está faltando buraco
para fazer dele jazida.

Buraco é lugar sagrado
Isso eu sei desde menino
Tá bom que no meu buraco
Neguinho vai metendo o peito

Todos devemos ter um buraco.
Seja gentil, adote um da sua cidade.
Cuide para deixá-lo aberto, porque
buraco tampado é o fim da humanidade.

Sim, devemos ter nosso buraco
E mantê-lo bem protegido
Mas o meu mantenho bem fechado
Manter aberto? Valha-me São Benedito.


Abra em 2012- as portas do seu coração
Que entre o vento da boa esperança
Pois com buraco ou sem buraco
Vai continuar a lambança.





   - Ouviu, dona!  Agora  vai embora, vai! Estou cansado de monologar com a senhora.  A senhora é muito chata, não tem assunto. Aliás, pessoa burra nunca tem assunto nenhum. Me deixe aqui, filosofando com a escuridão.

_ Flaudinho, nunca antes na história da Literatura tinha ouvido tamanha grandeza poética. E você chama isso de homenagem?

_ E não é que é!?
_ E não é que foi!?

_ Ah, dona. Esperteza de quem não pode perder um assunto para escrever.  Quanto a essa grandeza literária a que  a senhora se refere, papai mandou os dois para escola, para ver se davam uma melhorada na língua. Isso ai que a senhora ouviu  foi o resultado que a professora conseguiu com eles.  Mas foram dispensados, porque a professora concluiu que só iam à escola mesmo  para comerem a merenda. Então o meu pai achou melhor deixá-los em casa, para a professora não atrapalhar mais ainda  a cabecinha deles.  Antes  de mim foram eles que nasceram. Eles estavam no atendimento aqui.

_ Há há há há! Na sua família realmente só tem gênio!  Isso que você acabou de ler é realmente uma coisa de louco!

_ Ah, se eles são loucos eu não sei, mas tem um tio avô, que  quando eles apareciam lá na clínica dele para fazerem uma tal  análise psiquiátrica  ele ficava furioso. Ficava froidido mesmo.

 _ Nossa! Eles são fulminantes?

_ Vixi! Ela deu origem à ritalina, e ele vive a mil, feito cabrito doido..

_  Flaudinho, você me disse que estava contemplando a cidade, tomando um vento. Você está com a janela aberta?  Aquela arca a que se referiu, a N.A.P.O. Não acha melhor deixá-la aberta? Deixá-la mais próxima da  janela?

Tum tum tum tum tum tum

_ Flaudinho?   Flaudinho?  Hum... desligou!
Continua...
Rita Lavoyer
Participação especial José Hamilton Brito

2 comentários:

  1. Este Flaudino é uma peça. Agora, com esta participação na Flaudilândia vou ver se ele me concede o titulo de Cidadão Honorário.

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  2. Politicamente correto... Flaudinho aproveita a ocasião eleitoral, e bota a boca no trombone... ops, no buraco mesmo higienicamente conservado das ignorâncias outras!! Merenda & "Maluvadas" com ágeis boquinhas e dedinhos... haja limpeza para fichas limpas em RG e CPF!! E, viva a "República Flaudiense" repleta de professores famintos e autores pedintes!! Ô dó da nossa espécie, viu!!
    Bj. Célia.

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