CIA DOS BLOGUEIROS


quarta-feira, 18 de abril de 2012

FLAUDINHO SE ESCONDE NA ÁRVORE

FLAUDILÂNDIA – UMA CIDADE SERIAMENTE GOZADA

 PRIMEIRA NOVELA BLOGAL

Flaudinho se esconde na árvore

 esse capítulo tem   3 subcapítulos

Décimo primeiro capítulo

_ Ai, fome que não me deixa dormir! Acho que os meus olhos não querem enxergar o lado escuro de dentro. Eles não querem grudar para que o sono, o meu primeiro, aconteça. Dormir de olhos abertos, já ouvi dizer que isso é tema e lema da minha família. A cada situação passada descubro que ser filho de Fudêncio não é para qualquer um. Por isso o codinome Flaudiêncio, para os iniciantes. Quanto eu for um guerreiro de verdade, já com o posto assumido eu gritarei: Eu sou o filho do Fudêncio!

Eu estou meio desnorteado. Nem sei mais o que eu digo nem o que eu penso. Não sei       realidade ou delírio. Já que o sol  está querendo dar a sua cara novamente, vou subir naquela árvore genealógica para ver lá do alto como ele nasce, qual a visão que ele me transmite. Mas não vou subir muito não. Lá na ponta da árvore só  vi coisa estranha. Tive um primeiro dia de vida muito louco, histórias demais para confundirem a minha cabeça de recém nascido crescido e morto de fome.

Livro da árvore, lá vou eu novamente dentro de você! Putz! Que peso. Parece que o livro é a própria árvore. Subindo...

Com licença aí, ô da farda, preciso subir. Preciso subir, com licença, por favor! Eu quero subir na árvore para ver o sol nascer, pode abrir o caminho, por gentileza?

_ Peguem-no!

_ Peguem-no? Que que é isso? Perseguição comigo não! Você sabe com quem você está falando,  seu soldadinho de chumbo? Sou Flaudinho. Você sabe quem é o meu pai? Toca em mim pra vê em qual lugar meu pai manda você!

_ Por que você é tão magro, criatura estranha? É um espião?

_ Sou magro porque eu faço regime, seu tonto, ignorante, atrasado, pau mandado de  uma figa.

_ É do regime militar?

_ Tô falando, é burro mesmo! É regime alimentar, sua anta! E vai abrindo os cachos que eu preciso pisar. Tenho que subir nesta árvore. Tchau, boiola!  Abre alas que eu quero passar e ver a banda tocando coisas de amor.
Aí, piso no galho da figueira- veja só que esquisitice essa árvore, uma árvore com outras dentro dela. Fruto de figueira é figueiredo? - vai subindo Flaudinho.  Junta um cacho no outro cacho para a coisa ficar dura  e eu poder me apoiar no Geisel – coisa estranha, li há pouco sobre gêiser – vou tomar cuidado deve ser coisa perigosa.

“Cacho dos Silva” - Tá bom! Sabe com quem está falando! Então tá! Dá  as Costas aí Silva que eu preciso pisar. Quero subir mais no alto para ver o sol nascer, e não vai ser quadrado, viu! Cambadas! Anda logo, fiquem de 4 que eu preciso me apoiar nas costas de vocês. Isso, isso mesmo. Tipo banquinho! Valeu tranqueiras!

 Uau! Um Castelo Branco na árvore!  Não! Não vou entrar ali não. Deve ser o lugar onde gravam os filmes de terror. Tenho que subir nesta árvore antes que o sol nasça e eu não conseguirei vê-lo nascendo.
 Acho que nesta época da página deste livro muita gente não viu o sol nascer. Para atravessar a fronteiras com essas barreiras de gente fardada devia ser muito difícil. Mas como eu sou filho de quem eu sou, usei do poder do meu pai e consegui transpor as fardas.

Gente burra, estou pedindo licença e não entende, parto para a ignorância. Será que eles sabem o que é ignorância? Cacho de gente perigosa.  Descobri nas leituras daqueles pentavôs de túnica que quem não sabe das coisas se torna perigoso.

Subindo mais um pouquinho e... já estou chegando, pronto! Daqui eu tenho uma boa visão. Vou ficar quietinho para não acordar esses cachos. Tem gente de todos os tipos, acordá-los não será uma boa ideia agora. Psiu, Flaudinho! Daqui a pouco o sol nasce.

Que que é isso que eu estou vendo? Não é o sol, não é ...

_ Moleque! Acorde antes que o galo cante três vezes. Vai acabar chegando atrasado na escola novamente. Anda logo, o seu vinho e o seu pão já estão servidos. Coma logo, pegue o seu material e vá para a escola!

_ Mãe, eu não quero ir para a escola hoje. Estou com dor de barriga!
_ Vai fazendo as suas necessidades pelo caminho. Há um monte de sarça que ainda não foi usada por nenhum outro moleque.

_ Mas  mãe! Todos os outros alunos podem escrever. Só eu que não posso deixar nada registrado no meu caderno. Quando eu penso em pegar o lápis para registrar alguma coisa, lá vem a professora dizendo que a senhora deu ordens para que eu não deixe nada registrado. Por que eu tenho que ser diferente dentro de uma escola de iguais?  E por que nós tivemos que nos mudar para esse lugar?

_ Por que sim! E pronto! E tem mais: as ordens são do seu pai, não minhas. Eu apenas as transmito.

_ Mãe, eu não quero mais voltar àquela escola. Estou com dor de cabeça!

_ Peça um horário com o seu pai que ele te cura na hora.

_ Mas mãe! Que pai é esse que eu tenho que nunca veio me visitar? Nunca trouxe um brinquedo pra mim no dia de Natal. No dia dos pais ele é o único que não comparece nas comemorações que os alunos fazem na escola.  Mãe, eu não quero mais ir para a escola. Lá eles me zoam, me humilham. Isso tem se tornado repetitivo, perseguição das bravas, mãe!  Dizem que eu sou filho de mãe solteira. Ninguém acredita que eu tenho um pai de verdade. Eu digo que ele um dia vai lá falar com a diretora, mas ela sempre diz que eu estou mentindo, mãe! Aí, mãe, no recreio todos ficam me chamando de mentiroso, filho sem pai...

_ Não liga para eles, meu filho. Você tem pai sim! Erga a sua cabeça e faça cara de samambaia que tudo passará!

_ Mãe, a molecada está falando lá no pátio que a senhora anda com o chofer.

_ Chofer? O que vem a ser isso?

_ Uai, mãe! O Zé! Não é ele que puxa o burrinho quando você está montada  nele? Então, o Zé é o seu chofer.

_ Menino! Tome tento e tome logo esse  vinho antes que ele esquente!

“ Cruzes! Criança bebendo vinho? Lá em Flaudilândia essa mãe ia para a cadeia. Mas é melhor eu ficar quieto para ver aonde vai dar essa historia!”

_ Meu filho, o galo já cantou duas vezes. Vai se atrasar e aquela diretora vai mandar me chamar novamente. Se eu for lá de novo apedrejo aquela escola só para você passar a maior vergonha.

_ Ah, mãe, não quero ir. Estou passando mal. Põe bilhetinho na agenda, mãe. Fala que hoje eu não pude ir porque estou catarrento demais e pronto. Amanhã eu entrego pra ela ler.  Burra do jeito que ela é e com o medo que ela tem da senhora, vai ficar tudo resolvido para nós dois. Aí,  eu não preciso nem chamar esse meu pai que nunca aparece mesmo.   

“ Nossa! Estou embasbacado. Nessa época já chamavam diretora de escola de burra!? – Fique quietinho, Flaudinho senão você nem vai ver o sol nascendo, quanto mais  sair vivo daqui”

_ Está bem, meu filho, desta vez eu vou deixar você faltar. Mas se você não entrar na linha mando chamar o seu pai, porque educar você sozinho não esta sendo fácil. E se ele não aparecer logo vou ter que recorrer aos meus advogados para rever os meus direitos.

_ Tá bom, mãe! Já tomei todinho o vinho e comi todo o pão, prepare outro pro Zé que ele já acordou. Posso ir jogar bola, agora, mãe?

_ Como, você não está passando mal? Vai jogar bola com quem?

_ Ainda estou um pouquinho mal, mas eu vou chamar o meu amigo que também já deve estar passando mal, porque nós combinamos uma pelada num desses jardins aí.

_ E quem é esse seu amigo, meu filho?

_ O Poncio  Picasso, mãe. Ele é  o goleiro do time.

_ Mas esse menino anda faltando nas aulas de arte plástica, é?  Quando eu me encontrar com a mãe dele lá na feira vou ter que falar pra ela.
_ Ah, mãe! Deixa de ser dedo duro, mulher!? Cuida do seu filho que cada mãe cuida do dela.

_ Tá bom, meu filho. Mas tome cuidado para não se machucar. Se achar algumas azeitonas lá, bata ou balance bastante as árvores que elas caem, traga bastante porque quero rechear os pães para a ceia.

“ Virgem, Maria! Se ainda eu posso usar essa expressão! Só falta esse moleque querer bater na árvore, essa por exemplo onde eu estou escondido deve ser árvore de azeitona. Se já passei por uma figueira para chegar até ... aí aí aí ,  para conseguir essas azeitonas  ele vai sacudir. Tô ferrado. Aí, Fiquei entretido com a conversa desses dois que nem vi o sol nascer. Puxa, perdi a visão. Mas não vou perder essa pelada por nada. Vou descer, anotar  as chamadas telefônicas, fechar as agendas da minha família e vou subir de novo nesta árvore. É pra já! Tomara que aquela burra não me ligue agora”


esse capítulo continua...

Rita Lavoyer











2 comentários:

  1. Agora sim o Flaudinho ta enrolado na vida. Tem amizade com um tar de PicaSSO? Tá ferrado.

    ResponderExcluir
  2. Essa história de hoje, Rita, está mais para "Pôncio Pilatos" ou o "Zaqueu"... Se bem que Picasso também é da pesada, em todos os sentidos... Aguardemos o desfecho disso tudo...
    Bjs. Célia.

    ResponderExcluir